sábado, 14 de agosto de 2010

Marx e a crítica da educação

O texto abaixo faz parte da "orelha" do mais recente livro da editora Ideias e Letras, que será lançado muito em breve.

O livro é do autor Justino de Souza Júnior.

Com ele estamos retomando nossas postagens no nosso blog.

Vamos à leitura
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A tradição dos estudos e pesquisas em educação referenciados no marxismo costuma adotar a categoria trabalho como a categoria na qual se concentrariam todas as preocupações marxianas concernentes à educação. Dessa forma, há uma centralização excessiva, para não dizer absoluta, dos interesses na categoria trabalho. Essa centralização coloca-se quase que como uma consequência lógica da compreensão que define o trabalho como atividade vital e categoria fundante do ser social.

Todavia, a centralidade ontológica do trabalho não pode autorizar nem induzir automaticamente à tese da “centralidade pedagógica” do trabalho no processo de formação do sujeito social potencialmente revolucionário. Quando se realiza de maneira linear o percurso no qual se passa da afirmação do caráter ontologicamente fundante do trabalho à “centralidade pedagógica” do trabalho (abstrato, alienado, estranhado) no processo de formação humana, opera-se uma redução na contribuição marxiana para a educação. Elidi-se a categoria da práxis ou porque se entende que está contida no trabalho, ou porque sua importância é simplesmente desconsiderada ou até desconhe¬cida. Perante esse procedimento, coloca-se a indagação: a categoria da práxis teria alguma importância em si no interior do marxismo ou seria uma categoria decorativa, que se pode usar ou não sem que se altere o teor de uma elaboração?

No caso da reflexão sobre a educação, especificamente, a categoria da práxis parece ser decisiva, pois é a categoria que melhor define o principal propósito marxiano e marxista: a emancipação social, a superação da ordem do capital. Ora, esse propósito não se põe – aliás, a própria realidade da ordem do capital não se põe – senão a partir da práxis (no caso, da práxis produtiva, do trabalho), mas a superação prática dessa realidade apenas se faz possível pela práxis (político-educativa).

Essa mesma práxis é em si educativa, assim como precisa de um conjunto de ações educativas que a favoreçam. Dentre essas ações está o trabalho. Todavia, a categoria trabalho, como trabalho alienado, abstrato, estranhado, portanto, não é capaz sozinha de expressar toda a complexidade da problemática da educação em Marx.

O principal e maior de todos os problemas que acarreta para a reflexão marxiana da educação o superdimensionamento da categoria trabalho e a consequente elisão da práxis é que os educadores marxistas correm o risco – o que se confirma em determinadas pesquisas sobre trabalho e educação – de mergulharem no “mundo do trabalho”, no “chão de fábrica” com a pretensão – e a melhor das intenções – de compreender o modo de realização das tarefas, o modus operandi do fordismo-taylorismo ou do toyotismo, as relações de domínio ou controle que se estabelecem, as estratégias de resistência, a socialização do saber ou a apropriação desse, enfim, pretendendo compreender esse mundo e seu caráter educativo, mas acabam presos e enredados nele como fim em si.