quinta-feira, 23 de julho de 2009

O debate das ideias


No ano 2000 a Martins Fontes publicou uma nova edição do conhecido livro de Vigotski, o pensamento e linguagem sob um novo nome: A Construção do Pensamento e da Linguagem, este traduzido diretamente do russo, pelo professor da USP, livre-docente da disciplina Literatura Russa desta Universidade, Paulo Bezerra.

Esta tradução veio preencher uma importante lacuna em relação aos estudos da teoria vigotskiana, já que a primeira e mais conhecida tradução contém, segundo Newton Duarte, talvez o mais importante estudioso brasileiro das obras de Vigotski atualmente, "textos reescritos por pesquisadores norte-americanos", o que acarreta, indubitavelmente, sérios problemas em relação às categorias e método do pensamento de Vigotski o que, consequentemente, trás problemas no tocante a nossa prática pedagógica, principalmente àquelas implicadas com a linha sócio-histórica.

Só para termos uma ideia desta questão, que se circunscreve em um debate entre as ideias de Vigotski, que se fundamentam no materialismo histórico-dialético e as ideias de outros pensadores, como os tradutores inglese, que retirou toda a base teórica-filosófica marxista dos estudos de Vigostski, por entenderem que esta não tinha importância para os leitores brasileiros, o livro atual tem 496 páginas, contra às 216 da edição atual com nova encadernação.

São 280 páginas a menos. É mole? Segundo SÈVE, citado por DUARTE (2001, p. 76), "foram cortados nada menos que 2/3 do texto original". E tem mais. "Os cortes incidiram particularmente sobre as reflexões marxistas de Vigotski, como se elas fossem extrínsecas à sua teoria psicológica e, portanto, suprimível sem prejuízo para a conpreensão do pensamento do autor".

Este mero "detalhe" é totalmente contrário ao próprio percurso teórico do Vigotski. Pois ao contrário do que muitos pedagogos e pedagogas imaginam, o pensamento de Vigotski se vincula e se radicaliza no marxismo.

Isso fica explícito em um outro livro do autor, pouco lido no Brasil (aliás, sempre que o Vigotski é citado nas produções nacionais, o mesmo se resume a duas obras: formação social da mente e pensamento e linguagem), se trata do livro O Significado Histórico da Crise da Psicologia, onde o autor "defendeu explicitamente (...) a necessidade de uma teoria materialista e dialética do psiquismo".

Não é por acaso, portanto, que o Vigotski sempre é confundido no debate das ideias pedagógicas, com outros psicólogos mais genéticos, como o Piaget, transfigurando a sua obra em uma abordagem sócio-interacionista.

Mas isso é um assunto para outra postagem.

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DUARTE, Newton. Educação escolar, teoria do cotidiano e a escola de Vigotski. Campinas,SP: Autores Associados, 2001. 3 ed.

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