segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Recuo da teoria


A nossa reflexão toma como referência um texto da Maria Célia Marcondes de Moraes, publicado no livro Iluminismo às avessas: produção de conhecimento e políticas de formação docente, da qual a autora citada é a organizadora. O livro conta com mais oito textos além do aqui apresentado e foi publicado no ano de 2003, pela editora DP&A com apoio do CNPq.
Para que o texto não fique muito extenso, vou apresentar o primeiro tópico cujo tema é o mesmo do título desta postagem: recuo da teoria. Posteriormente apresentarei – sempre em forma de resenha – os outros dois tópicos: a retração da teoria e a pragmática retórica de ressignificação de conceitos.
A autora inicia sua reflexão sobre o Recuo da Teoria partindo das questões referentes a reestruturação socioeconômica, elemento este que repercute, pelas suas conseqüências, na educação, já que o processo de reestruturação vai exigir uma demanda considerável por “(...) conhecimentos e informações” sendo a educação uma questão estratégica para fazer face à velocidade das mudanças. “O discurso é claro: é preciso, agora, elaborar uma nova pedagogia, um projeto educativo de outra natureza, e assegurar o desenvolvimento de competências, valor agregado a um processo que, todavia, não é o mesmo para todos”(p.152).
Ocorre então a divisão social do conhecimento que tem relação objetiva com a clássica divisão social do trabalho. Para alguns, níveis de exigência e aprendizagem cada vez maior, que transcende às exigências empíricas. Para outros, apenas o desenvolvimento de competências necessárias para a utilização em um mercado de trabalho que tem exigências diferentes e que se torna cada vez mais escasso e incerto.
Nesse sentido, a formação inicial é apenas parte do processo. Necessário se faz que o trabalhador esteja sempre apto a aprender novas competências, aprender a aprender, pois como o mercado é extremamente dinâmico, a informação e o conhecimento, substratos energéticos para a sociedade informática, torna-se essencial e deve ser atualizado com freqüência. O trabalhador precisa está apto à novas aprendizagens, novos saberes, novas práticas.
Só se comportando desse jeito, tendo a curiosidade e a vontade de aprender a ser empregável como característica central do ser trabalhador, a “educação irá ajudar no desenvolvimento das carreiras, curar o desemprego, estimular a flexibilidade e a mudança, incrementar a competitividade pessoal e nacional, contribuir para o desenvolvimento de carreiras etc”(p.153).
Nesses termos, nada de perder tempo com questões teóricas, fruto de metanarrativas que não levam ninguém a nada, com reflexões e discussões obsoletas, metafísicas. Eis o que a autora chama de CELEBRAÇÃO DO FIM DA TEORIA: “movimento que prioriza a eficiência e a construção de um terreno consensual que toma por base a experiência imediata”. Este movimento tem como companhia, a “promessa de uma utopia educacional alimentada por um indigesto pragmatismo. Em tal utopia praticista, basta o Know-how e a teoria é considerada perda de tempo ou especulação metafísica (...) presa a sua própria estrutura discursiva".
Dito isso, a autora questiona: o que estaria direcionando o movimento que marginaliza os debates teóricos no campo educacional? Sem nenhuma pretensão de responder a tão ampla questão, a autora parte para destacar um aspecto que, para ela, é importante: a ressignificação dos conceitos.
Sobre isso, falaremos depois.

2 comentários:

Lúcia Leiro disse...

Exato. O artigo aponta para as reações no meio acadêmico quando o assunto é a presença do intelectual, da teoria, da ciência. Certa vez, lendo um artigo em um jornal local, não me lembro agora quem escreveu, se não me falha a memória foi Josaphat Marinho, que dizia, em 2003, que os doutores estavam sem público, pois não havia, na graduação, como ele sustentar um diálogo com os estudantes, pois a sua "bagagem" era inútil, face a realidade dos alunos. Visivelmente, ali estava um discurso tendencioso que buscava construir uma crise no meio intelectual que, na visão do autor, seguia em sua marcha solitária. O texto foi publicado no Jornal A Tarde. Se encontrar, envio para todos.

Anônimo disse...

O que significa o “recuo da teoria”, e quais suas consequências?